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O ponto de convergência entre discursos corporativos e resultados em ESG

O ponto de convergência entre discursos corporativos e resultados em ESG

“Todo diretor não-executivo atestaria, assim como todo CEO que se envolve com acionistas, que a mudança no tom do mercado em torno do ESG foi notável. Volte 15 anos, não tenho certeza se saberíamos o que significava a sigla do momento. Bem, hoje os especialistas individuais de ESG, junto aos grandes acionistas, estão conduzindo a assembleia [geral anual] de nossas empresas e trazendo resultados sustentáveis efetivos”. [1]

A citação de Ken MacKenzie, presidente da BHP, revela como as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) se tornaram importantes na condução de relatórios de desempenho corporativos.

Essa mudança é vital, uma vez que mais da metade das pessoas, em uma pesquisa internacional recente feita pela grande Edelman, concordam que “o capitalismo, como existe hoje, faz mais mal do que bem no mundo”[2]. No centro desse dano estão as questões ESG, como combate às mudanças climáticas e pobreza.

Ironicamente, como MacKenzie destaca, são os investidores, ou seja, os acionistas, que impulsionam a demanda por mais informações sobre o desempenho ESG para entender como as empresas estão se tornando parte do desenvolvimento sustentável – sendo “desenvolvimento aquilo que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras, satisfazendo as suas próprias necessidades”. [3]

O maior fundo de investimento do mundo, BlackRock, mudou sua estratégia para se concentrar no desenvolvimento sustentável porque grande parte dos investidores reconhecem que risco sustentável é risco de investimento. Como os investidores agora precisam entender melhor a relação entre discurso e resultado, a demanda por mudanças e informações de desempenho ESG está aumentando exponencialmente.

Em resposta, novos regulamentos para relatórios corporativos se multiplicam. Não com a sobriedade que o mercado exige, contudo. A passos lentos, na Europa, a Diretiva da União Europeia (UE) exige que grandes entidades europeias emitam relatórios não financeiros desde 2017.

Além disso, a Diretiva está atualmente em revisão de modelo (Diretiva de Sustentabilidade Corporativa [CSRD]) para garantir que esteja alinhada com o Pacto Ecológico Europeu e a Plataforma de Finanças Sustentáveis, que busca tornar a Europa uma economia neutra em carbono até 2050.

As informações corporativas de ESG são, há décadas, objeto de estudos por parte de investidores e analistas financeiros. Algumas críticas aparecem, obviamente, e são relevantes. Uma delas é a falta de aspectos qualitativos como relevância de valor, comparabilidade e credibilidade.

O último caso que causou grande burburinho acerca dos padrões que garantem consistência em ESG foi a saída da Tesla do importante índice S&P 500 e, por consequência, os twitters de Elon Musk acusando os três famosos pilares de “farsa”, “armados por falsos guerreiros da justiça social”.

Como Larry Fink argumenta [4], apesar da falta de padrão para avaliações mais certeiras, as empresas que continuam não divulgando informações abertamente “e não respondem às partes interessadas de maneira clara e objetiva, encontrarão um crescente ceticismo dos mercados e, por sua vez, um custo de capital mais alto”.

Na melhor das hipóteses, essas empresas se adaptarão lentamente a uma economia sustentável. Na pior das hipóteses, eles podem não sobreviver, afinal, os analistas financeiros desejam usar mais informações de sustentabilidade em seu processo de avaliação.

Os acionistas também procuram cada vez mais incluir informações de desempenho ESG em seus processos de decisão de investimento. Pelo terceiro ano consecutivo, por exemplo, os riscos ambientais e sociais dominaram a agenda de risco global delineada no Fórum Econômico Mundial (2020), tornando as questões ESG fatores críticos na tomada de decisões e no planejamento estratégico. Assim, há uma pressão crescente para que as organizações relatem mais informações.

Uma pesquisa feita pela consultoria Accenture [5] com organizações que relataram mais de US$ 1 bilhão em receita mostrou que a dificuldade em avaliar, relatar e gerenciar o desempenho sustentável é generalizada. Segundo o relatório, apenas 26% das companhias possuem informações claras e confiáveis para monitorar seus objetivos de sustentabilidade.

O levantamento também indica que, embora a maioria (78%) dos executivos esteja buscando entender os riscos ESG em seus negócios, somente 47% definiram as principais métricas e fontes de dados para seus relatórios.

A pluralidade dos indicadores ainda causa uma certa polifonia para os investidores e para as próprias organizações, é verdade. Tantas métricas têm levado o mercado a busca por uma padronização única.

Em 2020, as quatro grandes firmas de auditoria (Deloitte, PwC, KPMG e EY), chamadas de Big Four, se uniram para criar uma estrutura comum de relatórios ESG. A medida, liderada pelo International Business Council, braço do Fórum Econômico Mundial, procura incentivar grandes organizações a adotarem os mesmos padrões.

A expectativa para se chegar a um consenso é grande, assim como aconteceu com o modelo de Normas Internacionais de Relatórios Financeiros (IRFS, na sigla em inglês), hoje utilizado por companhias do mundo todo para divulgar seus balanços. O IFRS demorou em torno de 40 anos para ser discutido, acordado e amplamente adotado de forma global.

Agora, com o ESG, é como se estivéssemos adornando o clássico framework dos princípios contábeis com uma roupagem moderna, expandida pelos diversos indicadores ESG e sintonizada com os anseios do mundo atual. Com sorte, esse framework global para o ESG não demorará outros 40 anos para se tornar um padrão de referência comparativa mundial.

Considerando o papel crítico que os relatórios corporativos ESG terão na avaliação do desempenho de longo prazo, é esperado que as empresas forneçam não só informações, mas informações relevantes e de alta qualidade. Os eixos baseiam-se no pressuposto de que a quantidade também captura a qualidade ou transparência da divulgação.

Isso envolve, por exemplo, comunicar de maneira precisa medidas utilizadas, temas materiais concretos, diretrizes adotadas e o uso de ferramentas visuais para infográficos comparativos anuais, sinalizando progresso.

Autoridades e fundos de investimentos, nesse sentido, devem atuar de modo pendular. De um lado, com documentos diversos a respeito, vocalizam preocupações e entendimentos de modo que a falta de padronização global da informação ESG não se constitua empecilho à adoção de práticas empresariais sustentáveis relevantes, inclusive realçando a necessidade de viabilizá-las mediante parcerias estratégicas.

Por outro, sinalizam a importância da estruturação de mecanismos capazes de evitar que determinadas iniciativas se configurem danosas sob a ótica do greenwashing.

Assim, como no referido pêndulo de Newton, para um adequado funcionamento, deve-se sopesar e equacionar muitos pesos, forças e princípios. É de se retornar, como no pêndulo de Newton, às forças motrizes iniciais deste texto: a convergência entre o discurso e o resultado prático em ESG. E esse ponto se dá por meio de relatórios objetivos, claros e verdadeiros.

A busca por informações ESG é retrato da urgência e das profundas transformações pelas quais atravessa o mundo contemporâneo, mas expressam também as possibilidades, oportunidades e perspectivas desse novo mundo que se avizinha.

No objeto de Newton, temos pêndulos de mesmo tamanho e mesma massa, subjacentes uns aos outros e presos a uma única estrutura. Em uma análise comparativa e metafórica, os cinco famosos pêndulos poderiam facilmente ser as metas, desempenho, discurso, relatórios e a própria sustentabilidade amarradas a uma organização com propósito claro. Todos esses pêndulos conservam energia em um movimento preciso e linear, mas perde força se não for constantemente revisitado.

[1] Ken MacKenzie, Presidente da BHP, The Australian Financial Review Business Summit, em 10 de março de 2020.
[2] Edelman. (2020). Washington, DC: Depicting trans spatialities. In Trans vitalities (pp. 30–56). Routledge. https://doi.org/10.4324/9781351128025-3
[3] Bruntland, G. H. (Ed.) (1987). Our common future: The World Commission on Environment and Development. Oxford University Press.
[4] Fink, L. (2020). A fundamental reshaping of finance. https://www.blackrock.com/au/individual/larry-fink-ceo-letter
[5] Accenture. (2020).  https://www.accenture.com/gb-en/insights/sustainability/ungc

YUN KI LEE – Sócio da Lee, Brock, Camargo Advogados, mestre em Direito Econômico pela PUC-SP e professor de pós-graduação em Direito
PATRICIA BLUMBERG – Diretora de ESG da Lee, Brock, Camargo Advogados e Master em Digital Communication pela Westminster Kingsway College London

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