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Engenheiros são contratados para administrar processos

O enorme volume de processos judiciais que envolvem empresas no país – cerca de 83% deles têm como parte uma companhia -, assim como o custo e as complicações para a manutenção dessas ações, têm levado escritórios de advocacia a contratar um tipo de profissional, até então, estranho ao meio jurídico. Engenheiros de produção, cuja presença é comum na indústria, estão sendo chamados para acompanhar o passo a passo de milhares de ações que clientes das bancas respondem.

No escritório Dantas, Lee, Brock & Camargo, há sete anos advogados dividem com engenheiros a tarefa de monitorar processos. A banca, uma das primeiras a contratar profissionais da área, emprega três engenheiros que acompanham as ações de clientes que possuem mais de 20 mil processos em andamento – e geram mil novos documentos por mês. Além de ter conhecimento da situação de cada um, cabe aos profissionais identificar movimentos e possíveis falhas das companhias que possam gerar determinados tipos de demandas judiciais. Levantar desperdício de tempo e recursos e, consequentemente, a possibilidade de ganhar produtividade e economia também é outra função desses profissionais na banca.

O engenheiro de produção, Rogério Santos Almeida, entrou no escritório ainda como estagiário, quando passou a lidar com a “junção de culturas” da engenharia e direito. “Uma empresa com 300 processos recebe 30 novos documentos por mês, é diferente de quem recebe 10 mil novos documentos por mês. Fica muito mais evidente a necessidade de mapeamento”, afirma Ricardo Freitas Silveira, diretor de relações institucionais da banca. “É mais do que só acompanhar fluxo de processos do cliente, é propor otimizações”, diz Ricardo.

A engenheira Priscylla Spencer trabalhou para a banca, mas vislumbrou no mercado um nicho de atuação e decidiu sair, em 2011, para fundar uma consultoria especializada em gestão e otimização de processos judiciais, a Spencer. Segundo ela, a maioria de seus clientes é da área jurídica. Apesar de a maioria das bancas utilizar soluções tecnológicas, a engenheira afirma que nem sempre estas atendem as necessidades.

No escritório Demarest, a gestão dos chamado contencioso de massa – número elevado de ações repetitivas de uma mesma empresa – é aprimorada, desde 2011, pelo diretor financeiro da banca, o engenheiro de produção Ricardo Felice. “O contencioso de massa é uma linha de negócio do escritório de advocacia que se assemelha a uma linha de produção”. Segundo ele, há a alocação de advogados, tempo estimado para a condução de cada fase processual e pontos de checagem de qualidade. “Às vezes os processos são muito similares, o que permite a aplicação de algumas técnicas de linha de produção para facilitar”, afirma.

A consultora administrativa de escritórios de advocacia, Marta Villares Matta, sócia da JEM Consultoria, afirma que há uma tendência de profissionalização das áreas “secundárias” dos escritórios de advocacia. “Há uma procura por economia de escala”, afirma. Ela avalia que as bancas deverão passar a procurar profissionais que tenham enfoque em produtividade e economia.

A demanda por profissionais que “administrem” processos é explicada pelos números do Judiciário. Conforme o relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça, em 2012, a Justiça recebeu 28 milhões novas ações – excluído o Supremo Tribunal Federal. A Justiça Estadual registrou cerca de 20 milhões de novos casos. Além disso, segundo o estudo “Custo das empresas para litigar judicialmente” – realizado pelo Amaral, Yazbek Advogados – as companhias são parte em 83% dos 92,2 milhões processos em trâmite no país e gastam quase 2% do que faturam em um ano nessas ações.

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