No firme avanço das boas práticas ambientais, sociais e de governança do ESG, enrudecem-se, por outro lado, também, fortes críticas. Em “ESG Investing Isn´t Designed to Save The Planet” na Harvard Business Review, KENNETH P. PUCKER e ANDREW KING afirmam que os trilhões investidos em fundos ESG buscam garantir retorno aos acionistas, e não a gerar impacto planetário positivo como propagado.
É a negativa ampla e irrestrita do capitalismo de stakeholders, que forma a base do ESG. Um dos argumentos utilizados centra-se no uso supérfluo do conceito de sustentabilidade, sem critérios claros quanto à sua concepção.
É vero que ainda persiste muita discussão acerca da melhor definição de sustentabilidade, justamente, pela sua larga abrangência e complexidade, que, para muitos pesquisadores, ainda se encontra em construção. De qualquer forma, já se admite que é transversal e integradora, não se restringindo somente a questões ambientais.
Para JEFFREY SACHS, a sustentabilidade consiste em “uma visão normativa e ética do mundo, uma maneira de definir os objetivos de uma sociedade que funciona bem, que oferece bem-estar aos seus cidadãos no presente e no futuro”. Portanto, a hodierna concepção de sustentabilidade se dá pelo abranger dos três fatores do ESG, de forma imiscuída, e não isolada.
Criticam PUCKER e KING o alarde promovido por investidores sobre as vantagens do ESG sem que as empresas meçam efetivamente seus impactos ambientais, sociais e de governança. Há, certamente, divergências sobre a adoção de sistemas de mensuração do desempenho ESG.
O desafio na padronização das medições dentro de uma arquitetura regulatória envolve interesses diversos e classificações divergentes de um país para outro e de uma agência de ratings para outra. Contudo, caminhamos para a adoção de métricas universalmente aceitas, como foco na transparência e imparcialidade dos resultados.
As críticas são duras ao enfatizar os erros, mas deixam de ver as virtudes do ESG. Vaticinar que as práticas ESG não salvarão o planeta, propor limites para o capitalismo e o bem-estar planetário e pugnar por uma tese disjuntiva e fragmentária é fadar o ESG a não conseguir unir o mercado, os setores produtivos e as demandas dos stakeholders, comprometendo as soluções criativas e agregadoras que já vêm se firmando.
Esse artigo vai na toada da reportagem da The Economist, intitulada “ESG should be boiled down to one simple measure: emissions”, do jornalista HENRY TRICKS, que destaca três problemas no ESG:
excesso de objetivos, falta de coerência e exigência de demandas sociais para as empresas. Também vê com suspeição a ligação entre regulação e desempenho financeiro, relembrando o caso de um banco alemão que foi alvo de buscas de promotores por “greenwashing”, culminando no compromisso de trabalhar com reguladores e autoridades para combatê-lo.
Tal ocorrência apenas ratifica que seguimos evoluindo em um processo de aprendizado e aperfeiçoamento do ESG, assim como aconteceu com a consolidação dos programas de compliance em todo o mundo, que teve como um dos paradigmas o case de uma transnacional alemã que, flagrada em conduta antiética em diversos países,
decidiu adotar novos critérios de gestão de riscos para o cumprimento de regulações legais, com efetiva disseminação interna da cultura de “accountability” e treinamento de seus profissionais, também com a participação de autoridades, tornando-se, atualmente, uma referência de excelência em termos de compliance.
Por fim, The Economist sugere uma segregação dos pilares do ESG, como se fossem elementos isolados o ambiental, o social e a governança, propondo que o foco se centre apenas no fator “E”, pelo simples “achar” que os consumidores e investidores altruístas poderiam optar com mais clareza pelas ações ambientais tomadas por uma determinada empresa.
E, mesmo no fator ambiental, propõe-se um reducionismo focado na mensuração de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE).
Contrapomos com o exemplo da indústria de energia fóssil, notadamente, mal vista em termos ambientais, mas ainda essencial, cujas maiores representantes estão a caminhar pelas boas práticas do ESG, a despeito de todo o “bias” (preconceito), quanto à sua limitada capacidade de contribuir para o mundo mais verde, no “ismo” da cruzada de energia limpa versus energia suja.
Uma delas, a Petrobras, registrou em julho de 2022 um aumento anual de 26,8% em seu lucro líquido e se tornou a maior pagadora mundial de dividendos.
Com maior ênfase inicial em governança (G), a Petrobrás vem contribuindo também com melhores práticas ambientais (E) e sociais (S).
O ESG não pode ser desmembrado. Questões ambientais também implicam as sociais e as de governança, e vice-versa. É um todo comprometido com os melhores interesses dos stakeholders (acionistas, investidores, clientes, profissionais, fornecedores, governos, sociedade etc.). No longo prazo, não há perdas para as empresas por serem ESG.
Ao contrário, potencializam-se as chances de ganho ao atender ao apelo global de bem-estar geral. PAUL POLMAN e ANDREW WINSTON, em “Yes, Investing in ESG Pays Off” na Harvard Business Review, destacam que investir ao longo prazo em ESG vale, sim, à pena, tal como ratifica um novo estudo de McKinsey Global Institute e FCLT Global, em “Finally, Evidence that Managing for the Long Term Pays Off”:
empresas que operam com mentalidade de longo prazo vem a superar, desde 2001, o desempenho de sua indústria, com crescimento de receita 47% maior que seus concorrentes.
Como nas palavras de GUIMARÃES ROSA, em “Grande Sertão: Veredas”, não é possível separar o mundo em dois lados, claro e escuro e virtude e vício, pois “eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza!
Quero todos os pastos demarcados… Como é que posso com este mundo? Este mundo é muito misturado”, já que, há tempos, a liderança das mudanças planetárias deixou de ser um ônus exclusivo de governos e passou a ser compartilhada pelas empresas, investidores, sociedade e demais partes afetadas – os stakeholders! – com diferentes graus de contribuição, que é justamente o espírito do ESG.
Sobre os autores
Yun Ki Lee – Graduado em Direito pela USP; Mestre em Direito Econômico pela PUC/SP; Membro Efetivo da Comissão Especial de Relações Internacionais da OAB/SP; Presidente da Overseas Korean Traders Association, Sao Paulo Branch (OKTA SÃO PAULO); Vice-Presidente do Comitê Consultivo Jurídico Global da OKTA WORLD; Diretor-Tesoureiro do Instituto do Capitalismo Humanista (ICapH); Professor de Direito; e Advogado e Sócio da Lee, Brock, Camargo Advogados.
Kristian Lee – B.Sc. in Economics and Business Administration e Computer Science Student, ambos pela Goethe Universität Frankfurt Am Main; Advisor da Radio Caca; e Senior Research Analyst da Warren Brasil.