Não é segredo que a pandemia mudou a forma que o consumidor compra carros. Se antes precisava sair de casa e percorrer diversas lojas em busca de boas ofertas, agora pode fazer todo esse processo pela tela de seu celular, mesmo sem ver o veículo ao vivo ou conhecer o antigo dono.
Apesar de ser muito mais prática, a compra de carros usados pela internet abriu inúmeras brechas para golpes — dos mais manjados aos mais criativos, nos quais o carro (e até a loja) existe, mas a venda pela plataforma é falsa.
Só no primeiro semestre de 2022, as plataformas OLX, iCarros e SóCarrão registraram uma média de cinco mil golpes por mês no mercado de compra e venda de carros online, que geraram um prejuízo estimado de R$ 611 milhões para o bolso do consumidor. As fraudes são, em sua maioria, bem conhecidas no mercado e se valem da engenharia social para extrair dados pessoais e bancários dos consumidores, que serão utilizados em novos golpes.
Dessa forma, não adianta ter pressa na hora da compra. Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade e Proteção de Dados da OAB-SP, afirma que um dos passos mais básicos é saber o preço do carro na tabela Fipe: “Se achar um anúncio com preço muito abaixo do valor de mercado, provavelmente é falso”.
A segunda pista que leva a crer que a transação é uma cilada é quando o negociador está apressado. “O suposto dono ou interessado no veículo anuncia que só pode comprar ou vender por aquele preço no dia e precisa fechar negócio naquele momento. Ele pode pedir um sinal para segurar o carro, dizendo que existe outro interessado. Assim, fica ligando e mandando mensagem para atrair a atenção do consumidor, fazendo com que ele não pense muito para fechar negócio”, diz Camargo.
Nesse momento, há outro sinal de perigo. Beatriz Soares, diretora de produto da OLX, explica que a plataforma instrui para que toda a negociação virtual seja feita no próprio site de compra e venda, pois há dispositivos capazes de verificar, avisar o consumidor quando se trata de um golpe e até mesmo denunciar o caso para que seja feito o bloqueio da conta do fraudador.
A executiva conta que um dos primeiros passos do golpista é levar a negociação para aplicativos de mensagem, que são ambientes menos controlados.
Primeiro encontro
Embora a negociação seja feita online, o mais recomendável é conhecer o carro ao vivo, em um local seguro e público. Camargo recomenda que o comprador leve um mecânico de confiança ou, se estiver em outra cidade ou estado, invista em uma empresa de vistoria cautelar. “A vistoria faz um raio X das condições mecânicas e do estado do veículo, além de verificar possíveis restrições e gerar o laudo de procedência, que contém o histórico veicular.”
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Meu passado me condena
Além do estado físico do carro, o interessado também deve se informar sobre o passado do automóvel. “É importante checar a documentação para ver se o carro não é alienado, se não sofreu uma penhora, se não é de locadora ou roubado”, pontua o advogado.
Uma das formas de verificar se há restrições jurídicas e administrativas é por meio do Renajud, um sistema online de restrição judicial de veículos criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que interliga o Judiciário ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e fornece a ficha completa do carro.
Tão importante quanto ter conhecimento das avarias, dos antigos donos e das restrições do carro é se informar sobre o passado do dono — ou do comprador, caso esteja vendendo o usado. Para isso, vale consultar na plataforma do Serasa se o usuário tem nome sujo e se é bom credor, assim haverá mais uma garantia de que o negócio poderá ser feito sem (grandes) dores de cabeça.
Golpes mais comuns
– Quilometragem adulterada: Os fraudadores conseguem alterar o hodômetro do veículo (principalmente dos mais antigos) e baixar a quilometragem aferida no painel. Normalmente, o estado de conservação do carro — revestimento dos bancos, desgaste do volante e dos pneus — é um indicativo para identificar se a quilometragem foi adulterada. Mesmo assim, a vistoria cautelar ou a checagem feita por um mecânico de confiança é recomendada.
– Intermediário: O golpista copia os dados do vendedor na plataforma e cria outro anúncio semelhante, porém com preço abaixo do valor de mercado. Assim, entra em contato com o vendedor real e com um interessado na compra e marca um encontro para que se conheçam. Ele negocia com ambas as partes ao mesmo tempo e pede para o comprador depositar o dinheiro em uma conta que não tem nenhum vínculo com a do vendedor real. Depois desaparece e quem se torna suspeito do golpe é o anunciante verdadeiro.
– Boleto falso: Na hora do pagamento, os dados de depósito ou do boleto não batem com os do vendedor, o que pode indicar uma conta clonada. Assim, o dinheiro é destinado a um fraudador, e não ao verdadeiro vendedor.
– Loja falsa: Como o perfil de loja de usados online dá a falsa sensação de ser um ambiente de negócio mais seguro, o fraudador clona essa loja e vende os veículos como se fossem dele. Desconfie de lojas grandes que não são verificadas e confirme o CNPJ na hora do pagamento.
– Carro alugado: O veículo até existe, mas não pertence ao vendedor, pois é alugado. O interessado não verifica esse dado na documentação do carro e acaba concretizando o negócio.