O Future of Jobs Report 2025, do Fórum Econômico Mundial, mostra que estamos vivendo uma inflexão histórica no mercado de trabalho. A aceleração da inteligência artificial, da automação e das tecnologias digitais está remodelando funções, eliminando algumas profissões e criando outras em ritmo sem precedentes. Para o mundo jurídico e corporativo, o relatório é um termômetro das mudanças estruturais que impactarão diretamente como trabalhamos e como regulamos o trabalho.
Segundo os dados, quase um quarto dos empregos atuais devem deixar de existir até o fim da década, substituídos por sistemas automatizados. Esse movimento atinge sobretudo funções administrativas e de suporte, que também são parte da engrenagem do setor jurídico e empresarial. Escritórios e departamentos precisarão rever modelos organizacionais, pensar em requalificação de equipes e, em alguns casos, redesenhar a própria prestação de serviços.
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Em contrapartida, cresce a demanda por funções ligadas a tecnologia, análise de dados, segurança digital e gestão de riscos. Profissionais especializados em governança, ética e impactos sociais da IA aparecem entre os mais valorizados. Para advogados e consultores, isso significa que o Direito não estará à margem: será chamado a lidar com novos cenários de responsabilidade, auditoria e até mesmo redefinição de contratos de trabalho.
O relatório também destaca a transição para um mercado mais flexível e globalizado. A consolidação dos “anywhere jobs”, funções que podem ser exercidas de qualquer lugar, altera profundamente noções tradicionais de vínculo, tempo e lugar da prestação de serviços. Isso abre espaço para oportunidades de internacionalização, mas também cria desafios em termos de enquadramento jurídico, tributário e de governança.
Outro ponto em evidência é o impacto social da transformação digital. A automação, se não for acompanhada de estratégias de requalificação, pode aprofundar desigualdades e gerar exclusões. Por isso, o relatório aponta a importância de programas de reskilling e upskilling, que já aparecem como prioridade em quase 60% das empresas pesquisadas.
A cultura empresarial também passa por reconfiguração. Mais do que apenas adotar tecnologias, as companhias estão repensando estruturas de liderança, gestão de talentos e modelos de colaboração. O que se observa é que o futuro do trabalho será moldado tanto por algoritmos quanto por valores organizacionais e aqui, a atuação jurídica ganha espaço ao apoiar governança, responsabilidade corporativa e novas práticas de conformidade.
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Além disso, a emergência da ética algorítmica aparece como um dos temas centrais. Sistemas de IA já são utilizados para recrutar, avaliar desempenho e até definir progressões de carreira. Esse movimento exige mais transparência e accountability, e o setor jurídico terá papel de mediador entre inovação tecnológica e proteção de direitos fundamentais, seja no âmbito individual ou coletivo.
O relatório também sugere que a noção de “trabalho” em si está em mutação. Funções criativas, de análise crítica e de tomada de decisão estratégica tendem a ganhar relevância frente a atividades repetitivas. Essa mudança redefine a relação entre humanos e máquinas, exigindo um olhar jurídico não apenas para contratos e regulação, mas também para o valor social e cultural do trabalho no século XXI.
Por fim, a mensagem central do Future of Jobs Report 2025 é clara: o futuro do trabalho dependerá da capacidade de alinhar inovação tecnológica, transformação organizacional e responsabilidade social. Para o campo jurídico, isso significa ampliar horizontes, acompanhar os debates globais e estar preparado para traduzir em normas, contratos e estratégias de governança as mudanças que já estão em curso.