É inevitável saber que o mercado está passando por mudanças bruscas e constantes, principalmente pelas alterações nas características de consumo, que exigem uma nova ótica de negócios para que as empresas sobrevivam ao decurso do tempo. Dentre todas as mudanças, existem tendências sólidas que trazem orientações para as organizações permitindo uma visão do futuro em diferentes horizontes temporais: curto, médio e longo prazo.
A pesquisa Panorama 2024, realizada pela Amcham Brasil, ao final de 2023, com a participação de 694 empresários brasileiros, traz à tona as principais tendências que podem impactar as empresas ao longo do ano de 2024, estando a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) e a inteligência artificial (IA) como as duas principais, sendo citados por 51% e 60% dos entrevistados, respectivamente. A Internet das Coisas (Internet of Things ou apenas IoT) aparece como a oitava das tendências citadas, sendo certo que seu conceito se entrelaça com as práticas ESG, visto que há uma interação dinâmica entre a IoT e a sustentabilidade.
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As práticas ESG referem-se a um conjunto de critérios e métricas utilizados para avaliar o desempenho de uma empresa em relação a boas práticas ambientais, sociais e de governança. No contexto corporativo, o ESG destaca a importância de considerar não apenas os aspectos financeiros, mas também os impactos ambientais e sociais das operações de uma empresa, bem como a qualidade de sua governança corporativa.
Isso inclui a gestão responsável dos recursos naturais, o compromisso com a diversidade e a inclusão, a transparência nas práticas negociais e a eficácia dos mecanismos de supervisão e tomada de decisões. As práticas ESG visam não apenas maximizar o retorno financeiro a longo prazo, mas também promover a sustentabilidade, a responsabilidade social e a criação de valor para todas as partes interessadas envolvidas com a empresa.
A Internet das Coisas se refere à interconexão de dispositivos físicos, equipados com sensores, software e outras tecnologias, que permitem a coleta, troca e análise de dados. Esses dispositivos podem variar desde eletrodomésticos inteligentes e dispositivos vestíveis até máquinas industriais e veículos automatizados.
A IoT permite que esses dispositivos coletem informações em tempo real, compartilhem esses dados entre si e com sistemas de computação em nuvem, e tomem decisões autônomas, ou sejam, controladas remotamente. Com a IoT, é possível criar ambientes mais eficientes, seguros e conectados, além de possibilitar novos serviços e modelos de negócios inovadores em diversos setores, incluindo saúde, transporte, agricultura, indústria e cidades inteligentes.
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O McKinsey Global Institute realizou um estudo em que demonstra que a expectativa é de que, até 2025, a contribuição econômica anual da Internet das Coisas (IoT) no Brasil esteja situada entre 50 e 200 bilhões de dólares. A adoção da comunicação “máquina a máquina” tende a impulsionar a introdução de novos modelos de negócios e aprimorar os já estabelecidos, representando uma tendência significativa no cenário empresarial. Mas, como esses dois conceitos se interligam?
Ainda que as definições pareçam distintas, elas estão intrinsecamente ligadas na definição do futuro de um mundo mais verde e mais eficiente. Desde cidades inteligentes ao uso da tecnologia com os cuidados de saúde conectados e soluções agrícolas ecológicas, não há fronteiras para as formas como os dispositivos inteligentes podem contribuir para um amanhã mais consciente.
Sendo assim, sua principal relação está associada ao potencial da IoT em impulsionar e apoiar iniciativas sustentáveis e responsáveis nas organizações, resultando em um incremento nas práticas ESG e fortificando a reputação das organizações, gerando uma relação de lealdade com as partes interessadas nas atividades das empresas. Destacam-se, então, alguns possíveis ganhos ao relacionar os dois termos: em epígrafe:
- Impacto ambiental: A IoT pode ajudar as empresas a monitorar e gerenciar seus recursos naturais de forma mais eficiente, reduzindo o desperdício e minimizando o impacto ambiental. Por exemplo, sensores IoT podem ser usados para monitorar o consumo de energia, água e outros recursos, identificando oportunidades de otimização e redução de emissões de carbono. Como exemplo, pode-se instalar dispositivos com detector de sensores para que lâmpadas e aparelhos eletrônicos desliguem automaticamente na ausência de movimentos humanos;
- Responsabilidade social: A IoT pode ser utilizada para melhorar as condições de trabalho e segurança dos funcionários, além de promover a inclusão e diversidade no local de trabalho. Por exemplo, dispositivos IoT podem ser empregados para monitorar condições de segurança em ambientes industriais ou para garantir condições de trabalho adequadas em locais remotos ou até softwares de gestão que garantam, com precisão, a possibilidade de reportar indicadores que garantam a diversidade no local de trabalho;
- Governança corporativa: A IoT pode contribuir para a transparência e a integridade nos processos de governança corporativa. Ao fornecer dados em tempo real sobre operações e desempenho, a IoT pode aumentar a prestação de contas e a eficácia da gestão corporativa;
- Cadeias de abastecimento sustentáveis: integração de rastreamento e monitoramento baseados em IoT oferece uma visão em tempo real das operações da cadeia de suprimentos, possibilitando uma alocação mais eficiente de recursos e contribuindo para a redução de resíduos e emissões de carbono. Tais inovações estão alinhadas com o conceito de comércio responsável, incentivando uma abordagem mais sustentável e ética para o comércio global;
Nota-se, então dessa forma, que a depender do investimento em IoT, é possível ter ganhos em diferentes áreas, como em predição de consumo e desperdício, redução no consumo em utilities, como água, gás e luz, e até mesmo reduzir a emissão de CO² por meio da implementação das normas da ISO 50.0001, que trata do Sistema de Gestão de Energia (SGE).
Em síntese, a integração entre práticas ambientais, sociais e de governança e a Internet das Coisas representa um passo crucial em direção a cadeias de abastecimento mais transparentes, eficientes e sustentáveis. Ao adotar tecnologias IoT para monitorar e otimizar processos, as empresas não apenas reduzem seu impacto ambiental, mas também promovem uma cultura de responsabilidade social.
A convergência desses conceitos não apenas impulsiona a inovação nos negócios, mas também abre caminho para um futuro mais próspero e equitativo, onde o sucesso econômico está intrinsecamente ligado ao bem-estar do planeta e de suas comunidades.
ARTUR SIMÕES CAMPELO DE ARAÚJO – Advogado da Lee, Brock, Camargo Advogados (LBCA), pós-graduando em Direito Digital pela UERJ e ITS Rio, com Certificação pela Data Privacy Brasil, especialização em Privacidade e Proteção de Dados Pessoais pela Data Privacy Brasil e membro da Comissão de Privacidade e Proteção de Dados Pessoais e IA da OAB-SP